RESUMO


A crise habitacional em Portugal reflete uma problemática que ultrapassa fronteiras, evidenciando desafios comuns às grandes cidades europeias e mundiais. O aumento dos preços da habitação, impulsionado pela especulação imobiliária, crescimento do turismo e influxo de investimento estrangeiro, tem tornado o acesso a uma casa própria ou arrendada cada vez mais inacessível para a maioria da população, especialmente para as classes média e baixa.

A digitalização do trabalho trouxe consigo a possibilidade de profissionais altamente qualificados escolherem onde viver, independentemente da localização física do emprego. Cidades como Lisboa e Porto tornaram-se destinos atrativos, conjugando qualidade de vida com oportunidades profissionais. No entanto, este fenómeno contribuiu para uma pressão adicional no mercado imobiliário, elevando os preços e deslocando residentes locais para as periferias.

As políticas habitacionais adotadas até ao momento têm-se revelado insuficientes ou mesmo contraproducentes. Medidas como o controlo rígido de rendas, subsídios mal direcionados e a construção massiva de novas habitações sem o devido planeamento urbano e infraestrutural não resolveram o problema e, em alguns casos, agravaram-no. É necessário repensar estas abordagens, reconhecendo os seus efeitos adversos e ajustando-as às realidades atuais.

A reabilitação de imóveis devolutos surge como uma solução viável e sustentável. Ao recuperar edifícios existentes, é possível aumentar a oferta de habitação acessível, revitalizar áreas urbanas degradadas e preservar o património histórico e cultural. Esta estratégia, aliada a incentivos fiscais, inovação tecnológica e participação cidadã, pode transformar a crise habitacional numa oportunidade para promover cidades mais inclusivas e sustentáveis.
É imperativo que governos, setor privado, sociedade civil e cidadãos unam esforços para enfrentar este desafio. A crise habitacional não é apenas um problema de falta de casas, mas um sintoma de desigualdades sociais e económicas mais profundas. Somente através de uma ação coletiva e coordenada será possível garantir o direito fundamental à habitação e construir um futuro urbano mais justo e equilibrado.